segunda-feira, 13 de junho de 2011

O que ainda falta para a demissão?





Do blog de Augusto Nunes

O rosto pálido, as mãos trêmulas, os lábios secos, a voz gaguejante, os pigarros interrompendo a frase como vírgulas bêbadas, a impossibilidade de consumar o gesto de agarrar o copo d’água ─ os incontáveis sintomas de nervosismo bastariam para transformar a entrevista concedida por Antonio Palocci à TV Globo numa confissão de culpa.

Mas o conteúdo foi pior que a forma: o chefe da Casa Civil não explicou nada. Enredou-se em fantasias desconexas, negou-se a revelar os nomes dos clientes, confundiu-se com números e porcentagens, buscou refúgio na amnésia malandra, inventou a única empresa do mundo que ganhou mais dinheiro quando resolveu fechar as portas.

Palocci naufragou num palavrório tão raso que, na imagem de Nelson Rodrigues, uma formiga conseguiria atravessá-lo com água pelas canelas.

Em 17 de julho de 2005, levado às cordas pelo escândalo do mensalão, o presidente Lula fez de conta que aprendera a lição antiga como o mundo: “A desgraça da mentira é que, ao contar a primeira, você passa a vida inteira contando mentiras para justificar a primeira que você contou”, constatou numa entrevista ao Fantástico.

“Trabalhar com a verdade é muito melhor”. O problema é que a verdade é incompatível com mitômanos e megalomaníacos. Portador das duas patologias, Lula seguiu contando um mentira atrás da outra. No momento, jura que o mensalão nem existiu.

Em 2006, no depoimento à Corregedoria do Senado, o caseiro Francenildo Costa repetiu, com sinceridade, a lição que Lula declamou por esperteza: “O lado mais fraco não é o do caseiro, é o da mentira”, ensinou a vítima de Palocci. “Duro é falar mentira que você tem que ficar pensando. A verdade é fácil”.

Como Lula, Palocci foi longe demais para reconciliar-se com a verdade. Vai seguir mentindo até a queda, que só falta agora ser formalizada.

Se foram essas as explicações oferecidas à Procuradoria-Geral da República, Roberto Gurgel não pode alegar que ainda não conseguiu enxergar com nitidez um traficante de influência instalado na chefia da Casa Civil.

Se o que tem a dizer é o que disse à Globo, a presidente Dilma Rousseff tem o dever de demiti-lo imediatamente. O que não pode ser repetido é o embuste desta sexta-feira.

Os brasileiros honestos não merecem ver pela segunda vez na TV, protagonizando o espetáculo do cinismo mal ensaiado, o homem que não merecia uma segunda chance

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